A concorrência para concessões às pequenas e médias empresas se acirrará em 2019. Apesar da expectativa de queda dos juros e da possível redução das carteiras dos bancos privados, as medidas demorarão de seis meses a um ano para se tornarem concretas.

Muito da mudança esperada para o cenário bancário vem da afirmação feita pelo novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), de que a instituição vai focar cada vez mais em empresas de médio porte.

Segundo o professor do curso de economia da Faculdade Armando Álvares Penteado (FAAP) Johnny Mendes, a sinalização é tanto de maior competição com os bancos privados, como de uma mudança no mercado de crédito. “Grandes empresas passarão a buscar o mercado de capitais e o direcionamento dos empréstimos acabará indo para as pequenas e médias companhias”.

A dificuldade das PMEs em captar recursos no sistema bancário, no entanto, acaba sendo um forte obstáculo para o aumento no volume de concessões do mercado.

“O aumento da competitividade é positivo, principalmente porque alguns mercados que eram restritos – ou tabelados mais baixos pelos bancos públicos – serão abertos. Mas o tipo de operação e o rating da empresa ainda devem limitar muito das concessões às PMEs”, afirma o coordenador da Fundação Fipecafi Estevão Garcia de Oliveira Alexandre.

Redução de carteiras

Nesse cenário de maior competição generalizada, os especialistas ponderam que a carteira dos bancos privados pode diminuir, mas que a tendência é de uma maior diversificação de produtos nas carteiras das grandes instituições.

“Bancos públicos e privados vão concorrer em todas as linhas com juros mais semelhantes aos praticados pelo mercado. O problema é que não é fácil direcionar o crédito de uma hora pra outra e com todo mundo atuando em todos os lugares, a perda de carteira pode ser uma verdade para todos os players”, afirmou o coordenador de projetos de finanças e banking da Fundação Instituto de Administração (FIA) Roy Martelanc.

O próprio Bradesco, por exemplo, afirmou considerar o crédito imobiliário (o maior foco da Caixa) como uma linha “estratégica” para 2019. “Temos taxas competitivas e estamos atentos às oportunidades de mercado, uma vez que dispomos de funding, tecnologia e foco para continuar entre os principais players”, informou a instituição por meio de sua assessoria de imprensa.

Para a especialista em banking da Universidade Presbiteriana Mackenzie Thaís Cíntia Cárnio, esse movimento de competição impactará não somente o volume de concessões e as carteiras nos bancos, mas também as taxas de juros. “Já temos declarações claras que os juros bancários estão muito altos. É capaz de vermos uma movimentação no sentido de dar um novo ar ao mercado financeiro com revisão de taxas”, avaliou a especialista.

Segundo o diretor sênior de instituições financeiras da Fitch Ratings, Claudio Gallina, o guidance dos bancos grandes estão bastante positivos, mas há um “otimismo cauteloso”. “Trabalhamos com crescimento de 11% do crédito em 2019. Mas para que haja a redução do spread bancário ainda existem várias frentes que precisam ser melhor estudadas. Essas mudanças demoram um pouco para se materializarem, e algo efetivo só deve vir de seis meses a um ano”, conclui.

Fonte: DCI